Traduções Bíblicas são Confiáveis? – Parte III

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Nos dois primeiros artigos (clique aqui para ler o primeiro), falamos sobre alguns dos principais problemas que podem ser encontrados nas traduções da Bíblia Hebraica para o português.

Neste artigo, vamos falar de algumas estratégias que podem ser adotadas para eliminar esses problemas e não sermos enganados:

1) Tenha Muitas Versões
O primeiro e mais precioso conselho que posso dar é que se busquem diferentes traduções e versões da Bíblia. Ter diferentes versões ajuda você a observar como diferentes tradutores lidaram com o mesmo texto.

Mas não é só isso. Serei um pouco mais específico.

a) Religiões Diferentes: Procure versões que tenham origem em publicadores de religiões diferentes. Pessoas que só têm traduções protestantes têm maiores chances de esbarrar em problemas de traduções que tendem a puxar a sardinha para a doutrina protestante.

Por isso, é sempre bom ter traduções judaicas, católicas, protestantes e ecumênicas. Elas ajudarão você a não cair em dogmas religiosos por causa de leituras tendenciosas do texto.

b) Famílias Textuais Diferentes: Conforme já dito anteriormente, há traduções que derivam de famílias de manuscritos diferentes (clique aqui para ler a respeito disso).

Geralmente, temos três tipos de traduções: As que se baseiam no Texto Massorético, as que se baseiam na Septuaginta e as que fazem crítica textual, buscando qual a leitura mais original. É bom ter, pelo menos, uma tradução de cada tipo.

c) Estilos Diferentes: É importante ter tanto traduções que trazem o texto mais ao pé-da-letra quanto traduções que procuram traduzir a ideia numa linguagem mais simples. E entender que cada uma tem a sua função.

Gosto de começar lendo uma tradução de linguagem mais simples, para pegar a ideia geral de um texto, pois, convenhamos, há traduções nas quais o português é tão rebuscado que o texto é quase indecifrável. Depois de pegar a ideia geral, para um estudo mais profundo, o melhor é buscar traduções que sejam mais literalistas, para entender melhor os pormenores do texto.

Lembre-se: Nunca extraia uma conclusão a partir de uma única tradução. As chances de cair no erro são grandes. Procure ler em diferentes versões para, depois, tentar entender o porque da diferença.

2) Faça as Perguntas Básicas da Exegese
Exegese é você buscar o que o texto realmente diz, sem inserir nele ideias externas. Para isso, você deve se perguntar o seguinte:
  • Quem escreveu?
  • Em que lugar e época escreveu?
  • Pra quem escreveu?
  • Com que objetivo escreveu?
  • Como seus leitores entenderiam o texto?

Essas perguntas já são suficientes para afastar uma quantidade enorme de invenções doutrinárias que fogem ao propósito do texto original.

3) Leia Bons Comentaristas
Procure sempre ler bons exegetas e o que eles dizem sobre a passagem bíblica que você está estudando.

Fuja daqueles que atribuem sentido oculto a tudo ou que insistem em trazer detalhes extra-bíblicos que supostamente “ficaram de fora do texto.” Tais coisas, além de fantasiosas, jamais te ajudarão a compreender o sentido original.

Procure, principalmente, bons comentários conceituados no meio acadêmico (como grandes universidades), ou de comentaristas clássicos.

4) Use Concordâncias e Dicionários
É importante saber pelo menos o básico do hebraico para poder verificar um dicionário ou concordância bíblica.

Isso ajudará você a verificar as palavras no original e fugir de enxertos, além de saber como uma determinada expressão idiomática costuma ser traduzida noutros trechos das Escrituras.

5) Priorize o Todo
Tome muito cuidado com doutrinas que são estabelecidas com base em passagens ou trechos isolados das Escrituras. Há coisas que foram escritas pontualmente, para situações muito específicas.

Se queremos entender o que diz a Bíblia Hebraica sobre um determinado assunto, devemos observar o todo. Ver como aquele assunto evolui dentro do texto e qual a atitude geral para com ele.

Jamais devemos tomar passagens isoladas para estabelecer doutrina sobre ela. Desconfie muito desse tipo de coisa.

6) Leia sempre o Contexto
Como observado no artigo anterior, se você ler todo o contexto, terá sempre uma visão mais correta quanto àquilo que está sendo dito.

Por exemplo, muita gente se pergunta quando irá se cumprir a profecia: “O ETERNO teu Senhor te levantará um profeta do meio de ti, de teus irmãos, como eu; a ele ouvireis;” (Deuteronômio 18:15)

Como não continuam a leitura, poucos percebem que a profecia se cumpriu e o povo fez como o Eterno ordenou: “E Josué, filho de Num, foi cheio do espírito de sabedoria, porquanto Moisés tinha posto sobre ele as suas mãos; assim os filhos de Israel lhe deram ouvidos, e fizeram como o ETERNO ordenara a Moisés.” (Deuteronômio 34:9)

Por isso, quando se deparar com algum argumento bíblico, verifique sempre se o contexto dá margem àquela interpretação.

7) Questione sempre
O Eterno te deu intelecto para que seja colocado em aplicação. A maior arma contra a tirania das religiões ou do dogmatismo e das doutrinas de homens é o questionar, perguntar, buscar respostas e jamais ter medo de pensar.

O sábio jamais pode temer o conhecimento. Lembre-se: “O homem sábio é forte, e o homem de conhecimento consolida a força.” (Provérbios 24:5)

Conclusão
Espero que, com esta série de artigos, possa ter contribuído para ajudar você a ter uma melhor visão sobre o desafio das traduções bíblicas, bem como quanto a como evitar cair nas possíveis armadilhas que se apresentam.

Por fim, compreenda: Traduções não devem ser vistas como coisas ruins. Mas também não devem ser idolatradas como se fossem perfeitas. Que o sábio possa discernir entre essas duas coisas.