Também, você pediu!

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“E saiu Diná, filha de Lia, que esta dera a Jacó, para ver as filhas da terra. E Siquém, filho de Hamor, heveu, príncipe daquela terra, viu-a, e tomou-a, e deitou-se com ela, e humilhou-a.” (Gênesis 34:1,2)

Incidentalmente passei por um site religioso que comentava o caso acima. Quando, horrorizado, me deparei com comentários tais como o que abaixo transcrevo:

“Diná não era santa. O que ela estava fazendo lá com as filhas da terra? Boa coisa não era. Quem se senta à roda dos escarnecedores acaba se envolvendo com o mal.”

O primeiro problema da frase acima é que ela é pautada em especulação. A Bíblia não diz o que Diná estava fazendo, nem insinua que Diná tenha dado chance para o azar. Mas, há algo ainda pior do que tecer comentários sobre coisas que a Bíblia não diz.

O grande problema da frase acima é que ela reflete bastante a mentalidade de boa parte das pessoas, que é: Se uma pessoa sofreu um mal e ela não era um semi-anjo que flutuava a um metro do chão, ela provavelmente mereceu.

No caso do estupro, isso é bastante comum. Se uma moça não está andando com saia até o tornozelo, à luz do dia, numa avenida movimentada, com a Bíblia na mão e indo pra escola, trabalhou ou casa, então ela pediu pra ser estuprada.

Há mulheres que são estupradas até dentro de seus próprios lares, por seus próprios maridos. Não é o fato de uma mulher sair à noite, ou usar uma roupa mais decotada, ou ainda estar sozinha que significa que ela tenha saído por aí pedindo pra ser estuprada.

Esse pensamento é sórdido e precisa ser combatido com a máxima veemência, pois faz algo que a Bíblia condena: Julgar a vítima.

Observe o que a Bíblia diz: “Não cometam injustiça num julgamento; não favoreçam os pobres, nem procurem agradar os grandes, mas julguem o seu próximo com justiça.” (Levítico 19:15)

Uma situação deve ser avaliada por ela mesma. Não é porque uma pessoa que você gosta passou por algo que faz esse algo mais absurdo do que se aconteceu a alguém que você não gosta, ou com quem não concorda.

Além disso, há outro problema: Não cabe a nós ficarmos avaliando as experiências dos outros.

O caso de Diná não nos é apresentados para que montemos um juri para avaliá-la. Ele é contado para que possamos conhecer a trajetória dos filhos de Israel, com todos os seus problemas.

Da mesma forma, precisamos resistir à tentação de ficar encontrando e apontando os problemas na vida do outro. Não é necessário passar sentença para que possamos testemunhar sobre a verdade.

Uma atitude amorosa é muito mais eficaz para instruir do que uma posição de juízo. Resista à tentação de dizer ao outro: Também, você pediu!

O Senhor não habita nessa frase.