Desde o Começo
O Eterno tirou Israel do Egito, levou-o para o Sinai e constituiu uma nação para que pudesse servir de exemplo para as outras de como viver uma sociedade justa perante Ele.
Porém, quando o profeta Isaías fala sobre essa missão de Israel, diz: “Quem é cego senão o meu servo e surdo senão o mensageiro que enviei? Quem é cego como aquele Que é consagrado a mim, cego como o servo do ETERNO?” (Is. 42:19)
A mensagem é clara: Como poderia um mensageiro transmitir uma mensagem se fosse cego e surdo, não conseguindo lê-la nem ouvi-la? Em outras palavras, o Eterno escolheu Israel para essa missão, e aqui estava o profeta acusando Israel de falhar miseravelmente.
A Pergunta Incômoda
A dúvida, então, fica: Pra quê o Eterno deu Sua Instrução (Torá) a Israel se Ele sabia que Israel falharia nessa missão? De que serviu tudo isso, afinal?
Esse mesmo sentimento nós podemos ter quando vemos pessoas ditas religiosas estudando as Escrituras e, ainda assim agindo de forma absolutamente torta.
E aí nos fazemos aquela pergunta que nem todos têm coragem de verbalizar: Pra quê serve a Bíblia Hebraica se ninguém a cumpre?
E fica pior ainda quando lemos o mandamento do Eterno: “Santos sereis, porque eu, o ETERNO vosso Senhor, sou santo.” (Lv. 19:2b)
A Parábola dos Dois Sapos
Gostaria de ilustrar a resposta com uma parábola moderna que ouvi alguns anos atrás e que pode ajudar a compreender:
Certa vez, havia um sapo forte e robusto que tentava pular num galho de árvore. Por mais que tentasse, não conseguia atingir o galho. Exausto, apoiou-se sobre uma pedra, bastante frustrado.
Quando olhou para o lado, viu um sapinho franzino e fraquinho se aproximar. O sapinho pulou e, na primeira tentativa, atingiu o galho mais alto, para total choque do sapo mais forte.
Perplexo, o primeiro sapo perguntou ao segundo: “Como você fez pra ser bem sucedido no pulo?!” Ao que o sapo franzino, do alto do galho, respondeu: “Na verdade, eu falhei. Estava mirando no galho de cima!”
A resposta, portanto, é que o Eterno sabia que essa meta não seria cumprida. Porém, assim como o segundo sapo da parábola acima, ter uma meta de santidade mais elevada ajuda você a ser melhor, mesmo que você não atinja a perfeição.
Um Exemplo do Processo
Darei um exemplo: Ter os mandamentos do Eterno em mente não nos impede de falhar. Mas, quando nós falhamos, muitas vezes somos disciplinados, refletimos e conseguimos colocar a vida em ordem.
É como diz os Salmo 119:71: “Foi-me bom ter sido afligido, para que aprendesse os teus estatutos.”
Se não tivéssemos as Escrituras por referência, provavelmente mesmo se fôssemos disciplinados não colocaríamos nossa mão na consciência para refletir.
Imperfeitos, Porém Melhores (Ou Menos Piores)
Mas verdade é que o Eterno sabe que não seremos perfeitos. Por isso, outro salmo diz: “Se tu, ETERNO Senhor, registrasses os pecados, quem escaparia?” (Sl. 130:3)
E a verdade, também é, que às vezes o Eterno sabe tem muita gente cujo melhor ainda está bem aquém do desejado. Em outras palavras: Tem gente que, melhorando muito, consegue ser ruim.
E por isso Ele teve misericórdia de Níneve, dizendo: “Contudo, Nínive tem mais de cento e vinte mil pessoas que não sabem nem distinguir a mão direita da esquerda, além de muitos rebanhos. Não deveria eu ter pena dessa grande cidade?” (Jn. 4:11)
Conclusão
Resumindo: É verdade que ninguém cumpre a Bíblia Hebraica plenamente, nem irá cumprir nesta época ou neste mundo. Porém, sem ela, os resultados são infinitamente piores.
A Bíblia Hebraica nos ajuda a ser melhores. Ou, em alguns casos, a evitar de sermos piores. A meta é ambiciosa, o alvo é alto, justamente para nos estimular a sermos o melhor que podemos ser.
Mas não devemos olhar para o lado e lamentar pelo fato do melhor que o vizinho consegue fazer ainda ser muito pouco. Devemos olhar pra nós mesmos, buscar o nosso melhor, e nos concentrar em cumprir aquilo que também é dito nos salmos:
“Quem dera fossem firmados os meus caminhos na obediência aos teus decretos. Então não ficaria decepcionado ao considerar todos os teus mandamentos. Eu te louvarei de coração sincero quando aprender as tuas justas ordenanças.” (Sl 119:5-7)