“Ai dos que chamam ao mal bem e ao bem, mal, que fazem das trevas luz e da luz, trevas, do amargo, doce e do doce, amargo.” (Isaías 5:20)
Não sou uma pessoa muito dada à política, nem acredito que existam políticos bonzinhos. Porém, assisti estarrecido às críticas feitas ao prefeito de São Paulo quando este declarou guerra à pichação.
Não pretendo julgar se o prefeito adotou a melhor medida, se é demagogia ou coisa parecida. Mas quero falar de um tema que é recorrente no cotidiano do brasileiro: Tentar justificar o injustificável.
Aqueles que criticaram o prefeito dizem que a pichação é uma espécie de clamor popular contra a injustiça sofrida pelas classes menos favorecidas.
Que as classes menos favorecidas no Brasil são oprimidas e marginalizadas, isso é inegável. Que são esquecidos pelo poder público também. Porém, será que é aquele que não tem o que comer que irá gastar o seu dinheiro em latas de spray de tinta?
Tive um amigo que foi pichador. Seu pai era um advogado de sucesso. Ele morava num apartamento de 250m2 na Zona Sul do Rio de Janeiro, tinha personal trainer, estudava em escola particular bilíngue e viajava todos os anos para o exterior.
Será que esse rapaz quando pichava estava levantando um clamor de um marginalizado? Ele próprio, que felizmente deixou para trás essa vida, afirma que o fez porque era adolescente e queria parecer legal diante dos demais.
E o que dizer daquela pessoa que trabalhou a vida inteira para comprar sua casa, ou ter seu próprio comércio? Acaso tal pessoa merece ter seu patrimônio depredado?
É claro que os críticos não estão nem aí para as classes menos favorecidas, e adotam discurso polêmico simplesmente porque querem ver o circo pegar fogo e fazer oposição a um dado político que não pertence ao seu partido de preferência.
Repito: Não estou aqui para avaliar se o prefeito é bom ou ruim, se pertence a um partido virtuoso ou nocivo, etc.
Quero aqui apontar para o perigo denunciado pelo versículo supracitado: Chamar o mal de bem e o bem de mal.
É extremamente comum que quando duas ideologias se conflitam, as pessoas adotem a prática de demonizar o outro lado. Isso acontece na política, na religião e até em conflitos étnicos.
Não é porque seu vizinho pertence a outra religião que ele é um sem-vergonha. Não é porque o seu colega de trabalho é de esquerda ou de direita que ele é um marginal. Não é porque o seu amigo é negro ou branco ou índio que faz dele uma boa ou má pessoa.
Em contrapartida, é comum que as pessoas partam para a defesa de alguém que pertence ao seu grupo, mesmo quando a prática é indefensável ou injustificável.
Parece que as pessoas precisam decretar que o outro é terrível para justificar suas escolhas ideológicas. E precisam passar a mão na cabeça de quem pensa igual, para não se sentirem mal. Isso é sinal de insegurança ou fanatismo, e assim sendo não é uma boa prática.
Uma pessoa de outra religião é capaz de fazer um gesto positivo. E isso deve ser reconhecido. Uma pessoa da sua religião é capaz de fazer uma coisa terrível, e deve ser condenada por isso e não cercada de pretextos.
O bem e o mal não dependem de quem o pratica para serem classificados como certo ou errado. No exemplo avaliado por este texto, o ato de pichar não é menos errado nem menos criminoso porque o prefeito é dessa ou daquela ideologia.
Devemos tomar muito cuidado para não demonizar o outro e passar a mão na cabeça do semelhante, pois o Senhor nos cobrará quanto a isso. Não podemos chamar o mal de bem, nem o bem de mal.