Devo ter medo do Senhor?

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Nos dias atuais, falar sobre temer o Criador é algo politicamente incorreto. Porque logo as pessoas associam isso à cultura do medo que as religiões impõem para manter seus fiéis na linha, obedientes a tudo que dizem.

Mas, também não se pode negar que o temor seja um elemento importante no relacionamento com o Eterno, pois a Bíblia diz que temer o Senhor é o princípio da sabedoria.

Como entender isso?

A resposta está no contexto. Observe aqui alguns exemplos:

“Não repreendas o zombador porque te odiará, repreende o sábio, e ele te agradecerá. Dá ao sábio, e ele se tornará mais sábio, ensina o justo, e ele aprenderá ainda mais. O começo da sabedoria é o temor do ETERNO. e o conhecimento dos santos é inteligência. Por mim prolongarás os teus dias, e ajuntar-se-ão anos em tua vida. Se fores sábio, o serás para o teu proveito; se te tornas zombador, somente tu o pagarás.” (Provérbios 9:9-11)

Neste texto, observamos que temer significa ser prudente. A sabedoria nos ensina como devemos portar. Nos ensina que devemos ser moderados em tudo, buscando sempre a justiça e a retidão.

E a sabedoria também ensina que devemos temer as consequências de atos impensados. Por exemplo, um jovem deve temer as drogas por saber que elas destroem a vida de quem as usa.

Mas, isso não é tudo. Observe:

“Não amaldiçoarás ao surdo, nem porás tropeço diante do cego; mas temerás o teu Senhor. Eu sou o ETERNO.” (Levítico 19:14)

Aqui, o temor significa saber que existe uma autoridade. Mesmo que ninguém esteja nos vendo fazer mal ao próximo, o Eterno nos vê.

Devemos, portanto, ter o temor do Eterno antes de fazer algum tipo de mal ao próximo, porque Ele é justo.

Temor x Pânico

Por fim, existe ainda outra função do temor:

“E todo o povo viu os trovões e os relâmpagos, e o sonido da buzina, e o monte fumegando; e o povo, vendo isso retirou-se e pôs-se de longe. E disseram a Moisés: Fala tu conosco, e ouviremos: e não fale o Senhor conosco, para que não morramos. E disse Moisés ao povo: Não temais, o Senhor veio para vos provar, e para que o seu temor esteja diante de vós, a fim de que não pequeis.” (Êxodo 20:18-20)

A passagem acima manda temer e, ao mesmo tempo, não temer. E é ela que melhor nos ensina a lição sobre o temor.

O temor não deve se transformar em pânico. O povo queria ficar longe do Eterno por achar que pudesse correr algum perigo.

Moisés esclarece que o temor bíblico não é o pânico. O temor bíblico é como um aluno que teme a nota de um professor. O aluno sabe que o professor não irá espancá-lo nem lançá-lo numa masmorra, mas ele sabe que se não estudar terá consequências.

Esse é o temor que a Bíblia nos ensina a ter com relação ao Criador: É ter responsabilidade em nossas ações. É saber que tem alguém olhando, que nos cobra integridade. É não sair fazendo o que bem entende com o próximo, porque o Eterno julgará a causa.

Mas, não é pânico.

Os israelitas foram tranquilizados pelo próprio Moisés quando ficaram apavorados. O pânico não é bom.

É comum que pessoas que apanharam muito tenham até um certo trauma, e que isso gere pânico com relação ao Criador.

E infelizmente essa é a fundação da fé de muitas seitas: Jogam com o medo, para manter a dominação.

O Monoteísta, contudo, deve entender que ele foi criado livre. Ele não foi criado para apanhar, e o Eterno não está esperando o primeiro deslize para arrebentar-lhe a cabeça com uma marreta.

O Monoteísta deve ser responsável. Deve entender que tem a obrigação de ser íntegro e reto. Não deve esperar confete, pois ser boa pessoa é obrigação e não virtude. E esse é o temor que o Eterno deseja que compreendamos.

O temor de um filho que tem um pai amoroso. Ele pode confiar no amor do pai, ele sabe que não será maltratado pelo pai, mas também sabe que se pisar na linha existem consequências.

Essas consequências não são para a destruição, mas sim para um aprendizado. Uma mãe dá um tapa na mão de uma criança que quer enfiar o dedo na tomada não por prazer sádico de ver a criança sofrer, mas justamente para protegê-la.

Muitas coisas estão reservadas para nós neste mundo e no mundo vindouro, e elas requerem crescimento e responsabilidade. Por isso, o Eterno deseja que não tenhamos pânico, mas que tenhamos responsabilidade.

Encerro com uma célebre frase de Mahatma Ghandi, que é bem propícia: “O inimigo é o medo. Pensamos que é o ódio. Mas é o medo.”