“Não sejas demasiadamente justo, nem demasiadamente sábio; por que te destruirias a ti mesmo?” (Eclesiastes 7:16)
Desde a antiguidade, a Bíblia Hebraica já ensinava: Geralmente, o caminho do meio-termo, da moderação e da ausência de excessos é o mais acertado.
Existe um motivo pelo qual não devemos tentar ser demasiadamente justos: Porque a justiça é algo simples, que demanda uma transformação de caráter e não uma roupagem externa.
E assim o é com o excesso de religiosidade. A necessidade de sentir-se justas através de elementos culturais, fanatismo e radicalidade ao invés de foco no interior pode, como diz a Bíblia Hebraica, levar à própria auto-destruição.
Um Estudo Revelador
Até pouco tempo atrás isso era muito subjetivo e difícil de perceber na prática. Porém, estudos acadêmicos contemporâneos vêm cada vez mais confirmar que a Bíblia Hebraica tem razão.
Um dos estudos mais importantes nesse sentido acaba de ser publicado por dois psicólogos judeus: Os doutores Steven Tzvi Pirutinsky e David H. Rosmarin, da prestigiadíssima Harvard Medical School. Ambos pesquisam, há muitos anos, os efeitos da fé sobre a saúde mental.
Os resultados do estudo foram interessantíssimos. Após estudar uma enorme quantidade de indivíduos religiosos que sofrem de depressão, perceberam duas coisas importantes.
A Fé Ajuda na Depressão
Embora ter fé não impeça ninguém de sofrer de depressão, uma coisa observada pelos dois acadêmicos é que quem tem fé no Eterno costuma lidar melhor com a depressão do que ateus ou agnósticos. Ou seja, ter fé no Eterno tem efeitos positivos sobre a depressão.
São eles:
1) Entendimento do Sofrimento
Quem tem fé costuma ter uma relação melhor com o sofrimento, entendendo-o como parte de um plano maior. Isto é, que existe um propósito para tudo e o Eterno está no controle de todas as coisa.
2) Socialização
Pessoas que se socializam mais costumam sofrer menos de depressão. E a fé é um elemento que ajuda as pessoas a fazerem novas amizades, encontrarem novas pessoas com quem conversar, etc.
3) Desvio do Foco
Ao focar nos estudos e atividades religiosos, as pessoas de fé acabam tendo menor tendência a focar excessivamente nos problemas. E tal foco excessivo pode agravar a depressão.
4) Sentimento de Realização
Servir o Eterno e agir em prol da fé dá ao indivíduo um sentimento de realização. A pessoa tem um propósito e encontra satisfação em cumpri-lo, o que ajuda a reduzir a depressão.
O Excesso de Religiosidade Aumenta a Depressão
Porém, o estudo apontou também para o outro extremo: Um excesso de religiosidade também piora significativamente a saúde mental, agravando a depressão. E vários problemas foram apontados.
São eles:
1) Ansiedade e Medo
Excesso de religiosidade faz com que a pessoa tenha muito medo de desagradar o Eterno e ser punido, ou por superstição teme sofrer a influência de alguma força maligna. Isso muito agrava a depressão.
2) Conflitos
Fanatismo e fundamentalismo geram conflitos, causando muita violência verbal, psicológica e (em alguns casos) até física entre indivíduos, famílias e comunidades. E essa tensão constante é destrutiva.
3) Padrões Repetitivos
Padrões de pensamento excessivamente repetitivos levam à obsessão, o que é um dos elementos que mais pode agravar um quadro depressivo.
4) Esgotamento
O excesso de práticas religiosas leva a estresse e esgotamento, o que, além de muito agravar, é também uma das principais causas de depressão.
A Observação do Estudo
Diante disso, os acadêmicos chegam a duas conclusões: Uma mais óbvia e outra nem tanto.
A mais óbvia é que a prática moderada é a mais saudável, pois evita os efeitos negativos mas ao mesmo tempo goza dos benefícios da fé sólida.
A segunda: A prática religiosa precisa fazer sentido, ter um propósito claro e coerente. Precisa fazer sentido para a pessoa, ao mesmo tempo em que é suave e não se torna um peso.
O gráfico abaixo, extraído diretamente do estudo em questão, mostra como isso é importante e impacta diretamente os sintomas depressivos.
Conclusão
Com tudo isso concluímos duas coisas: A primeira é que a Bíblia Hebraica, em sua sabedoria milenar, sempre teve razão ao pregar a moderação.
A segunda: Não tenha medo de se libertar do fanatismo, do obscurantismo, do fundamentalismo e dos excessos de religiosidade. Porque longe de fazer bem, já está mais do que comprovado que tais coisas fazem muito mal, tanto psicologicamente quanto espiritualmente.
Quem quiser ler o estudo completo, no inglês, intitulado “Protective and Harmful Effects of Religious Practice on Depression Among Jewish Individuals With Mood Disorders” basta clicar aqui.