Existem contradições na Bíblia? – Parte III

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Neste artigo veremos mais uma lista de supostas contradições bíblicas, que podem ser facilmente explicadas.

Caso você queira ler os dois primeiros, use os links a seguir: Parte I e Parte II.

 

5) Teologia Pré-Definida
Um dos maiores problemas nas aparentes contradições é que as pessoas não percebem que estão, na verdade, inserindo seus próprios conceitos na Bíblia. Abaixo, veremos o exemplo mais emblemático disso:

“E a ira do ETERNO se tornou a acender contra Israel; e incitou a Davi contra eles, dizendo: Vai, numera a Israel e a Judá.” (2 Sm. 24:1)

“Então Satanás [satan] se levantou contra Israel, e incitou Davi a numerar a Israel.” (1 Cr. 21:1 – Almeida)

Afinal, quem incitou Davi a contar o povo? Foi o ETERNO, ou Satanás? Quando alguém lê a passagem como referência a Satanás, de fato a contradição é inevitável.

O problema, na verdade, é que o nome próprio “Satanás” não é bíblico. No hebraico, “satan” significa simplesmente adversário. Essa palavra é usada para pessoas e até pro Anjo do Senhor. Exemplos:

“Porém Davi disse: Que tenho eu convosco, filhos de Zeruia, para que hoje me sejais adversários [satan]? Morreria alguém hoje em Israel? Pois porventura não sei que hoje fui feito rei sobre Israel?

Ou seja, a tradução correta para 1 Crônicas 21:1 é:

“Então um adversário [satan] se levantou contra Israel, e incitou Davi a numerar a Israel.” (1 Cr. 21:1 – Almeida)

Conseguimos ver, portanto, que não há contradição. Em 2 Samuel, a ênfase é no fato de que foi o Senhor quem incitou Davi. Já 1 Crônicas mostra que isso foi feito levantando uma pessoa.

Corrigindo o problema da teologia pré-definida, vemos que o que temos são apenas duas pessoas narrando o mesmo evento de maneira diferente.

6) Literalização de Textos Poéticos
Textos poéticos, figurativos, parábolas e provérbios eram recursos literários muito comuns no Oriente Médio Antigo. Como a maioria das pessoas era analfabeta, era mais fácil ensinar através de poemas, cânticos e contos do que com textos muito técnicos.

O problema é que grupos fundamentalistas acabam literalizando essas passagens, gerando contradições. Abaixo, um exemplo típico:

– Em Gênesis 1:11-27, as plantas são criadas antes do homem.
– Em Gênesis 2:7-14, o homem é criado antes das plantas.

Na verdade, nenhum dos dois capítulos é literal. Toda a estrutura do texto é poética e usa a linguagem do folclore do Oriente Médio, procurando corrigir pensamentos politeístas.

Em Gênesis 1, a ordem da criação mostra que o Senhor esteve envolvido em cada etapa, desde as coisas mais simples até as mais sofisticadas. Na cultura politeísta, cada criação foi feita por uma divindade, ou em um dado momento como consequência das disputas entre os deuses.

Em Gênesis 2, a ordem mostra que o Senhor não precisa do ser humano para alimentá-lo e cuidar de seu jardim. Os mitos sumérios diziam que os deuses precisavam do ser humano para cuidar do jardim do Éden.

Como se pode perceber, cada texto tem seu objetivo. Se entendidos em seu contexto original, não há qualquer problema pois cada poema está restrito ao seu contexto e propósito. Se literalizados, contudo, podem gerar contradições.

Conclusão
Esta série de artigos está longe de esgotar todas as passagens ou possibilidades de surgimento de aparentes contradições por falta de entendimento sobre o texto bíblico.

Porém, ela mostra que não se pode tomar um texto tão sofisticado quanto o bíblico e sair apontando versículos e achando que há contradições.

Espero, com isso, que o leitor possa tranquilizar seu coração e perceber que há ótimas respostas àqueles que desejam abalar a confiabilidade do texto bíblico.