O QUE QUEREMOS
Todos nós queremos nos proteger, bem como proteger nossa família, do mal e do sofrimento. Todos nós queremos que aqueles que amamos tenham uma vida plena, feliz e realizada, sem sofrimento ou dor.
E muitos buscam na religião a resposta para que isso aconteça. E as religiões costumam dar as respostas bíblicas mais comuns: ensinar as gerações vindouras a orar, a estudar as Escrituras, etc.
Porém, existe uma resposta que as pessoas não costumam receber. E que é uma das mais fundamentais. Para explicá-la melhor, gostaria de falar sobre um livro que recentemente causou furor nos Estados Unidos, chamado “The Coddling of the American Mind” (O Mimar da Mente Americana).
O PROBLEMA
Escrito pelo ativista social Greg Lukianoff e pelo psicólogo Jonathan Haidt, o livro aponta para um grave problema que está ocorrendo com as crianças de hoje.
Na obra, eles apontam para o fato de que as pessoas hoje são super protegidas. As escolas passaram a tratar as crianças como clientes e consumidores, não como alunos. Se a criança não está bem, muda-se o professor ou mesmo a escola. O problema nunca está na criança.
Há também uma paranóia dos pais de querer proteger os filhos de tudo que pode causar algum tipo de desconforto ou mal. Qualquer exposição a coisas negativas no mundo é vista como uma potencial influência negativa.
A interação social das pessoas também é cada vez menor. Tudo é bullying, ou é motivo para afastamento e exclusão. As redes sociais, capazes de fazer um problema “sumir” apertando o botão de banir, também não ajudam.
Resumindo: Como as gerações mais antigas têm dificuldade de entender o mundo de hoje, que mudou numa velocidade alarmante, estão superprotegendo as gerações vindouras. E, mesmo os adultos de hoje, cada vez mais se protegem e procuram viver numa bolha. E, assim, a humanidade caminha para um futuro complicado.
As próprias religiões fazem um mal enorme nesse sentido, pois proliferam as seitas que incentivam você a se sentir bem e a negar o sofrimento. Sofrer, dizem elas (sem nenhuma base bíblica), é falta de fé.
COMO O ETERNO AGE
Quando o Eterno prometeu ser um Pai para Salomão, ele disse a Davi:
“Eu lhe serei por pai, e ele me será por filho; e, se vier a transgredir, castigá-lo-ei com vara de homens, e com açoites de filhos de homens.” (2 Samuel 7:14)
O Eterno não prometeu superproteger Salomão. Na verdade, o Eterno jamais agiu de forma superprotetora. Cito abaixo dois casos que demonstram isso:
Moisés foi criado na corte de faraó, como um príncipe do Egito (Êxodo 2:10). No entanto, para que pudesse conduzir o povo à terra da promessa, o Eterno permitiu que ele se tornasse um fugitivo e passasse dificuldades:
“Ouvindo, pois, Faraó este caso, procurou matar a Moisés; mas Moisés fugiu de diante da face de Faraó, e habitou na terra de Midiã, e assentou-se junto a um poço.” (Êxodo 2:15)
Tornar-se peregrino em terra estranha, recomeçando a vida do zero, ajudou a moldar Moisés de forma que ele pudesse se tornar o líder que o Eterno desejava. Porque um líder precisava entender o que era a adversidade, o sofrimento, para poder desenvolver a fé, a empatia e valorizar a promessa do Criador.
O mesmo aconteceu com Davi. Era um homem com enorme zelo e amor pelo Eterno, ao ponto de por Ele enfrentar o gigante Golias (1 Samuel 17). No entanto, para que pudesse ser o rei que o Eterno desejava, precisou conhecer a perseguição nas mãos de Saul (1 Samuel 19 a 30).
EQUILÍBRIO
“Tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo o propósito debaixo do céu… Tempo de chorar, e tempo de rir; tempo de prantear, e tempo de dançar.” (Eclesiastes 3:1,4)
Para tudo na vida, existe um propósito e um ensinamento. Coisas como angústia, adversidade e sofrimento ensinam lições preciosas. Por essa razão, se tentamos superproteger nossos familiares, então não damos outra escolha para o Eterno.
O próprio Eterno irá, por amor a eles, trazer situações de sofrimento. Porque o Eterno age exatamente assim: Trazendo equilíbrio onde não há. A Ele, como Pai, compete dar aquilo que precisamos, não aquilo que queremos.
Muitas vezes, as pessoas oram, clamam, e imploram por livramento do sofrimento, mas não percebem que o próprio Eterno as está conduzindo pelo deserto. Por quanto tempo? Pelo tempo que for necessário até que aprendam as lições que precisam ser compreendidas.
O QUE FAZER
Agora que você compreendeu o problema, deve estar se perguntando: O que fazer? O próprio livro supracitado dá uma dica:
“De tempos em tempos, nos próximos anos, espero que você seja tratado injustamente, para que conheça o valor da justiça. Espero que você sofra uma traição, porque isso lhe ensinará a importância da lealdade. Desculpe dizer, mas espero que você se sinta solitário de vez em quando para que não deixe de dar valor a seus amigos. Desejo-lhe azar, novamente, de vez em quando, para que você esteja consciente do papel do acaso na vida e entenda que o seu sucesso não é totalmente merecido e que o fracasso dos outros também não é totalmente merecido. E quando você perde, como acontecerá às vezes, eu espero que de vez em quando, seu oponente se vanglorie do seu fracasso. É uma maneira de você entender a importância do espírito esportivo. Espero que você seja ignorado para que conheça a importância de ouvir os outros e espero que sinta dor o suficiente para aprender a compaixão. Independente de eu desejar ou não estas coisas, elas vão acontecer. E se você se beneficiará delas ou não dependerá da sua capacidade de ver a mensagem em seus infortúnios.”
Quanto mais tentarmos “fugir” (ou “proteger demais” quem amamos) dos problemas, ao invés de encará-los de frente e aprendermos o que precisamos aprender, mais problemas virão, até que tenhamos aprendido a lição.
E o Eterno é paciente: Ele tem a eternidade inteira para nos ensinar. Mas, e nós, queremos permanecer vivendo de adversidade em adversidade?
Pode parecer estranho, mas se queremos ser felizes, precisamos fazer o seguinte:
1) Entender que o sofrimento é parte da vida;
2) Evitar a superproteção. Todo aquele que quer aprender a andar precisa tropeçar.
3) Procurar extrair o que há de bom na adversidade;
4) Nunca deixar de buscar o Eterno na angústia, mas também procurar entender junto a Ele que lição Ele deseja nos ensinar.