O que é, na prática, honrar pai e mãe?

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Num mundo perfeito, esse mandamento deveria ser fácil. Afinal, nada daria mais satisfação do que cuidar de quem primeiro cuidou de nós.

Mas, não vivemos num mundo perfeito. E esse mandamento pode causar muita angústia, porque a maioria das pessoas não faz a menor ideia do que ele significa.

A Bíblia diz: “Honra a teu pai e a tua mãe, para que se prolonguem os teus dias na terra que o ETERNO teu Senhor te dá.” (Ex. 20:12)

Dois erros de interpretação da passagem acima geram enormes dificuldades.

O primeiro deles é supor que o mandamento signifique longevidade, por causa do prolongamento dos dias na terra. Porém, esses dias na terra não se referem aos nossos anos de vida. E a terra aqui mencionada não é o planeta terra, mas sim a terra que mana leite e mel prometida aos israelitas.

Ou seja, este mandamento fala de prosperidade, e não de longevidade. E isso tem tudo a ver com o que o mandamento ordena, no texto hebraico original.

A palavra honra, no hebraico kabed, costuma ser usada em duas situações: Quando a pessoa tem prosperidade, como por exemplo é dito de Abraão em Gn. 13:2. E quando a pessoa é importante, como por exemplo é dito do Senhor em Ex. 14:4.

Em outras palavras, o mandamento está dizendo: Trate seus pais com importância, e certifique-se de que eles têm tudo o que precisam financeiramente para ter uma vida digna.

A vida digna inclui ter suas necessidades básicas supridas, e também inclui não serem esquecidos ou abandonados pelos filhos.

O mandamento não ordena você a fazer tudo o que seus pais mandam, especialmente quando não vive não vive na casa deles. Não manda pagar a conta de caprichos e coisas supérfluas. Também não ordena ninguém a ficar calado diante deles numa discussão ou conflito. Nem tampouco manda seguir a religião deles, ou ficar quieto quando eles fazem bobagens.

Considerando que o amor bíblico não é gostar, e sim tratar com amorosidade, direi algo polêmico mas que é a pura realidade: Não somos nem mesmo obrigados a gostar de nossos pais. Tratar com consideração e amorosidade sim.

Mas sentimento você não controla, e há pais dos quais gostar pode ser impossível. Por exemplo, pais que espancam seus filhos, os expulsa de casa, entre outras situações. Mas, mesmo não sendo possível gostar, ainda é possível tratar com dignidade, que o que a Bíblia exige.

Por fim, existe um terceiro erro de interpretação curioso: Estamos habituados a pensar nos pais como os pais biológicos ou de criação. Mas no hebraico as palavras “pai” e “mãe” são usadas para todas as gerações de ascendência direta.

Em outras palavras, isso também se aplica aos seus avós e bisavós, se eles forem vivos. O que faz sentido, pois como você poderia honrar um pai e uma mãe e ao mesmo tempo deixar os pais deles passarem dificuldade ou abandonados?

A Bíblia, portanto, ensina responsabilidade e consideração. E isso é perfeitamente possível e não é excessivamente pesado.

E faz sentido, portanto, que a promessa seja de prosperidade. Se você cuidar para que seus pais tenham vida digna, o Criador prosperará o seu sustento.