Introdução
Não é raro que eu receba contato de pessoas absolutamente perdidas e confusas sobre procedimentos ritualísticos e/ou quanto à liturgia, muitas vezes até com medo de não saber o que fazer.
É a essas pessoas que me dirijo neste singelo texto, para dar uma resposta às suas inquietações.
O Exemplo de Israel
Quando Israel saiu do Egito, e estava ainda aos pés do Sinai, o Senhor disse: “Este é o holocausto contínuo, instituído no monte Sinai, em cheiro suave, oferta queimada ao ETERNO.” (Nm. 28:6)
Por outro lado, o Senhor também disse: “Porque nunca falei a vossos pais, no dia em que os tirei da terra do Egito, nem lhes ordenei coisa alguma acerca de holocaustos ou sacrifícios. Mas isto lhes ordenei, dizendo: Dai ouvidos à minha voz, e eu serei o vosso Senhor, e vós sereis o meu povo; e andai em todo o caminho que eu vos mandar, para que vos vá bem.” (Jr. 7:22,23)
Se você prestar atenção nas palavras cuidadosamente, perceberá que o motivo do Senhor reclamar dos sacrifícios é porque eles não eram a essência de sua revelação. Os sacrifícios eram apenas um elemento cultural. Mas, por que eles foram instituídos?
No Oriente Médio, todos sacrificavam coisas às divindades. Era a realidade que eles conheciam. Por isso, o Senhor aceitou os sacrifícios de Israel como forma de ser servido. Mas, Ele nunca quis sacrifícios para si próprio, pois Ele não bebe sangue nem come carne (Sl. 50:13-15).
O Propósito da Liturgia
Dessa maneira, observamos o seguinte: Toda liturgia, ou ritualística, existe única e exclusivamente por causa do ser humano. Não por causa dele, não por observar leis celestiais, mas por nossa causa.
Nós é que precisamos cantar, falar, chorar, ler, fazer orações e nos entregar a uma liturgia que tenha começo, meio fim, repleta de elementos visuais, auditivos, empregando até mesmo o paladar e o olfato.
Tudo isso faz diferença para nós. Mas, o que faz a diferença pra Ele é o coração. Isto é, como você se entrega a Ele, aos seus propósitos e desígnios.
Por isso, o salmista diz: “Pois não desejas sacrifícios, senão eu os daria; tu não te deleitas em holocaustos. Os sacrifícios para o Senhor são o espírito quebrantado; a um coração quebrantado e contrito não desprezarás, ó Senhor.” (Sl. 51:16,17)
Por isso, existem vários exemplos na Bíblia Hebraica de quebra de protocolo ritualístico, e o Senhor nunca se importou com isso. O que dizer de Elias, que nem sacerdote era, sacrificando fora do monte do Templo (1 Rs. 18), Davi comendo pão sagrado (1 Sm. 21) ou o próprio Eterno marcando segunda data para a Páscoa (Pessa’h) porque algumas pessoas não puderam participar por motivos alheios à sua vontade (Nm. 9)?
Mantendo o Foco Correto
Toda teologia que se monta em cima de exigências ritualísticas, ou de liturgia, é pura doutrina de homens e dogmatismo vazio.
Se você se sente apreensivo quanto a fazer esta ou aquela oração, quanto a tomar parte nesta ou naquela liturgia, se fica desesperado pra “fazer certo” uma oração ou cerimônia, se fica preocupado com horários afins, então reveja seus conceitos e liberte-se, pois você está escravizado por dogmas humanos, não servindo o Criador!
Pelo contrário, às vezes, o excesso de foco nessas coisas acaba por tirar o foco do coração. Porque quem se preocupa demais com o exterior acaba, naturalmente, tirando o foco do interior, pois nós não conseguimos ter dois focos ao mesmo tempo.
Estou fazendo a liturgia da forma certa? Posso mesmo realizá-la? Devo/posso fazer assim?
A resposta é sempre a mesma: Se o teu coração está focado no Criador, no único e verdadeiro Senhor, então a prática está perfeita. Se não estiver focado nisso, por mais bem executada que seja qualquer técnica, ela se torna vã e vazia.
Aproveito para sugerir também a leitura do artigo: O Perigo da ‘Simbolatria’.