É pecado julgar o próximo?

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O princípio de não julgar o próximo é conhecido pela maioria das pessoas como um dos ensinamentos mais importantes do Cristianismo. Em sendo assim, devemos ou não concordar com ele?

Mais uma vez estamos estamos falando de um princípio do Cristianismo que, na realidade, se inspirou na própria Bíblia Hebraica. Nem todos sabem disso, mas a Bíblia Hebraica já ensinava isso muitos séculos antes.

Mas, tudo depende do contexto. Existem três tipos de julgamento:

1) Rotular uma pessoa como pecadora, falando mal dela ou agindo de forma negativa.

Sim, é pecado. Este primeiro tipo de julgamento é exatamente aquele que é apontado como nocivo. E é o que o profeta Isaías chama de dedo estendido, no sentido de acusar o próximo:

“Se tirares do meio de ti o jugo, o dedo acusador, e o falar iniquamente… então a tua luz nascerá nas trevas, e a tua escuridão será como o meio-dia. E o Senhor te guiará continuamente, e fartará a tua alma.” (Isaías 58:9,11)

Repare que essa transgressão é grave, e é condenada pelas Escrituras e tidas como um dos problemas que conduziu o povo ao exílio.

Não cabe a você julgar se uma pessoa é pecadora, ou ficar falando mal de uma pessoa a torto e a direito, muitas vezes sem provas. Ou fazer mau juízo de alguém porque não foi com a cara, etc.

2) Julgar se aquilo que uma pessoa disse (ou pratica) é correto.

Não é pecado. Muito pelo contrário, a Bíblia Hebraica nos encoraja a fazermos isso. Não devemos aceitar tudo que ouvimos. E também não devemos aceitar ou não alguma coisa baseado em quem está falando.

Ter discernimento é um dos objetivos do servo do Senhor, algo que aparece ao longo de toda Escritura, como por exemplo:

“Todas as minhas palavras são justas; nenhuma delas é distorcida ou perversa. Para os que têm discernimento, são todas claras, e retas para os que têm conhecimento.” (Pv. 8:8,9)

Devemos desenvolver nosso intelecto e nossa espiritualidade para separar o mal do bem. Claro, isso não significa que você tenha que bater boca com a pessoa. Mas, desenvolva seu senso crítico.

3) Sentar-se num tribunal ou coisa parecida para determinar a sorte de alguém.

Não é pecado. É absolutamente normal e esperado que uma sociedade funcione por meio de regras. E onde há regras, alguém tem que avaliar se elas estão sendo cumpridas.

Pode ser que você seja chamado para resolver um conflito. Pode ser que em sua empresa você precise fazer uma avaliação de alguém. Pode ser que você tenha votar uma penalidade para alguém do seu prédio que violou as normas do condomínio. Ou pode até que você seja chamado para fazer parte de um juri popular.

Nesses casos, a única coisa que as Escrituras recomendam é que sejamos imparciais. Isto é, julgando apenas a verdade dos fatos, sem ser tendencioso porque alguém é mais rico ou mais pobre, mais simpático ou mais chato:

“Não cometam injustiça num julgamento; não favoreçam os pobres, nem procurem agradar os grandes, mas julguem o seu próximo com justiça.” (Lv. 19:15)

Como podemos perceber, a questão de não julgar o próximo vale para não apontar dedos, criar preconceitos, dar ouvidos a fofocas maldosas ou falar mal do próximo.

Podemos e devemos avaliar atitudes e palavras. Não para condenar o próximo, mas para preservar a nossa própria integridade.

E, por fim, não há nada de errado em ser um árbitro ou juiz de uma dada situação. Nesse caso, devemos apenas buscar ser o mais imparcial possível.

Esse conceito, portanto, já existia muito antes do Cristianismo e deve ser igualmente defendido por monoteístas.