“O ETERNO é lento para a cólera e cheio de amor, tolera a falta e a transgressão, mas não deixa ninguém impune, ele que castiga a falta dos pais nos filhos até à terceira e quarta geração.’ Perdoa, pois, a falta deste povo segundo a grandeza da tua bondade, tudo conforme o tens tratado desde o Egito até aqui.” (Números 14:18-19)
Ah, como é difícil perdoar! Não é tarefa nada trivial olhar para uma pessoa que nos feriu, física ou psicologicamente, nos humilhou ou ainda traiu nossa confiança. Talvez esse seja um dos preceitos bíblicos mais difíceis de ser seguidos.
Porém, existe um detalhe para o qual muita gente não atenta, e que faz toda a diferença. Se perdoar já é difícil, nas condições que a maioria das pessoas pensa é muito mais difícil!
Eu me refiro ao fato de que as pessoas confundem perdão com amnésia, e desculpar com fingir que nada aconteceu e voltar à mesma situação de antes.
Quando Moisés estava diante do Senhor e suplicou que Ele perdoasse os israelitas que haviam aprontado muito no caminho até a terra da promessa, ele apelou para a misericórdia.
Ora, o melhor modelo do que pode ser o ato de perdoar vem de observar o próprio Criador. E veja o que Ele respondeu a Moisés:
“Disse o ETERNO: “Eu o perdôo, conforme a tua súplica. Mas — eis que eu vivo! e a glória do ETERNO enche toda a terra! Todos estes homens que viram minha glória e os sinais que fiz no Egito e no deserto, estes homens que já me puseram à prova dez vezes, sem obedecer à minha voz, não verão a terra que prometi com juramento a seus pais. Nenhum daqueles que me ultrajaram a verá.” (Números 14:20-23)
Em outras palavras, o Senhor disse a Moisés: Eu perdôo, mas não vai tudo voltar a ser como antes.
E aqui vemos a essência do perdão. Perdoar é você deixar de cobrar aquilo que a pessoa te fez. Você sabe que foi ferido, ou que a pessoa está em dívida com você, e ainda assim você abre mão de que seja feita a justiça, ou que aquela dívida seja sanada.
Mas, perdoar não significa voltar para a situação de origem.
Uma esposa pode perdoar a traição do marido, mas nada a obriga a ainda ficar casada com ele. Um chefe pode perdoar um funcionário que o roubou, mas também não é obrigado a mantê-lo no cargo.
E, por fim, perdoar não é deixar de sentir raiva ou tristeza. Você não controla o que sente. Mas controla o que faz com o que sente. Você pode ficar com raiva de ter tomado uma fechada no trânsito, mas nem por isso sair do carro e chutar a porta do outro.
Todos nós seremos cobrados por nossas atitudes. Mas é importante entender até onde vai a nossa obrigação quanto ao perdão.
Se você consegue não só perdoar, como ainda deixar de sentir raiva e voltar a viver como se nada tivesse ocorrido, ótimo! Você certamente será mais feliz assim. Mas entenda que essa não é sua obrigação.
Claro, não é bom alimentar mágoas. Mas alimentar não é a mesma coisa que sentir, pois alimentar é um ato consciente. Aí sim podemos dizer que isso é errado.
Perdoar é uma virtude, mas não pode ser um fardo impossível de ser carregado, senão estamos fazendo com que quem foi ferido seja vítima duas vezes.
Isto é, não podemos exigir que quem sofreu o mal tenha ainda a obrigação de fazer cara de feliz como se nada tivesse acontecido. Isso não é nobreza de caráter, e perversidade, beira o masoquismo.