Castrar animais domésticos é contra a Bíblia?

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“Não poderão oferecer ao ETERNO um animal cujos testículos estejam machucados, esmagados, despedaçados ou cortados. Não façam isso em sua própria terra, nem aceitem animais como esses das mãos de um estrangeiro para oferecê-los como alimento do seu Senhor. Não serão aceitos em favor de vocês, pois são deformados e apresentam defeitos.” (Levítico 22:24-25)

O versículo acima traz uma proibição de oferecer sacrifícios de animais que tenham sido mutilados. Algumas religiões interpretam o “Não façam isso em sua própria terra” como uma proibição adicional de castrar animais.

Mas será que isso procede mesmo?

Embora a interpretação seja popular, ela não é uma boa leitura da passagem. Basta observar o contexto para perceber que o não fazer isso na própria terra é paralelo à proibição de oferecer um animal com defeitos que tenha vindo de um estrangeiro.

Infelizmente, quando um texto bíblico é tomado fora de contexto, o resultado pode ser tornar a vida das pessoas, e até dos animais, pior.

De fato, a Bíblia traz vários versículos que falam sobre não cometer crueldades com animais, desde quando no Gênesis encontramos a proibição de comer um animal vivo. (Gn. 9:4)

Porém, o contexto dessa passagem de Levítico é completamente outro. O contexto inteiro do capítulo 22 é o de ofertas, e não de como tratar os animais. E pra entendê-lo, é preciso compreender como eram os sacrifícios nos tempos dos israelitas.

Naquela época, as pessoas dependiam muito do rebanho para obter não só carne, como leite, gordura, lã, couro, e usavam também os animais como força de tração para ajudar a arar a terra. E não era todo mundo que tinha muitos animais.

Oferecer animais em sacrifício era literalmente um sacrifício monetário. A pessoa abria mão de algo que era muito importante, para oferecer ao Senhor. Para nossa realidade, isso é bastante primitivo. Mas quatro mil anos atrás, era a forma que eles conheciam para agradar a uma divindade.

Muitas vezes, a pessoa tinha animais defeituosos, fracos, ou que tinham sofrido acidentes. Em alguns casos, os animais eram castrados para evitar que o animal ficasse agressivo demais, etc.

E não era incomum que as pessoas quisessem apelar para o famoso jeitinho: Já que o animal não teria serventia, eles ofereceriam para o Senhor. Ou seja, não era uma dádiva de coração, mas sim dar daquilo que sobrava.

E pior: Muitas dessas ofertas eram entregues aos levitas, que além de trabalhar no Templo, também serviam como mestres e juízes nas cidades de Israel. Eles não tinham terra, justamente para que tivessem tempo para essas outras ocupações.

Como se pode perceber, isso não tem absolutamente nada a ver com a castração de animais domésticos.

Biblicamente, o que não se pode fazer é tratar o animal com crueldade. Por exemplo, cortar orelhas ou rabos de cachorro por questão de estética, submetendo o animal à dor, é algo que uma pessoa que serve o Senhor não deve fazer.

Mas, a castração não só é um processo que hoje é bastante indolor, como também é uma segurança para o animal, que corre menos risco de fugir para cruzar e acabar sendo atropelado ou coisa parecida.

E é também melhor para a saúde. A ONG World Animal Protection possui um artigo interessante que lista todos os benefícios de ter um animal castrado. Clique aqui para lê-lo.

Fique, portanto, totalmente tranquilo quanto a castrar seu pet. Não há nisso nem pecado, nem dolo.