Amor, Tinder e Pandemia

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“Como são agradáveis as suas carícias, meu amor, minha noiva! O seu amor é melhor do que o vinho, e o aroma do seu perfume é mais suave do que todas as especiarias!” (Cânticos 4:10)

Uma notícia inusitada surgiu durante o período da pandemia: O aplicativo Tinder, famoso por popularizar encontros casuais e relacionamentos cada vez mais superficiais, registrou uma mudança na descrição daquilo que os usuários esperam.

O Tinder relata que um número cada vez maior de pessoas descreve que quer encontrar alguém para abraçar, fazer cafuné, enfim, ter algum tipo de afetividade. Somente o andar de mãos dadas cresceu cerca de 23% entre os desejos daqueles que procuram a plataforma.

Isso mostra que a pandemia revelou às pessoas o grande vazio gerado por relacionamentos superficiais. Eles podem até trazer algum tipo de satisfação momentânea ao ego, ou suprir o desejo por sexo. E podem apresentar a ilusão de que tudo isso vem de forma muito fácil.

A pandemia nos trouxe um isolamento social que demonstrou a importância de se ter uma estrutura afetiva, calcada em companhias que verdadeiramente nos amam.

A pandemia não durará para sempre, é verdade. Mas, momentos difíceis e sensação de isolamento não vêm apenas com pandemias. Para muitas pessoas, foi a primeira vez em que se sentiram sozinhas e isoladas na vida. Mas, não será a última, pois a vida é feita de altos e baixos.

Pessoas que investiram em relacionamentos superficiais cada vez mais se encontram isoladas e insatisfeitas, percebendo que no momento em que mais precisam, não podem contar com alguém, por não terem investido naquilo que verdadeiramente une os seres humanos: o amor.

Como psicanalista, cada vez tenho visto mais pessoas que outrora eram solteirões convictos, ou que diziam estar numa fase “curtir a vida” – o que geralmente é pretexto para ocultar o medo do envolvimento afetivo – e que, de repente, se veem buscando encontrar pessoas para constituir um lar.

O amor é trabalhoso, muito mais difícil de ser cultivado do que os relacionamentos superficiais. Mas é o único capaz de ofertar os verdadeiros deleites das carícias descritas pela Bíblia Hebraica, ou aquela sensação maravilhosa de estar ao lado da pessoa amada.